ANO LXIX - Domingo, 01 de Abril de 2012 - Nº 3466
EXISTE DINHEIRO SUJO OU LIMPO?
“Não trarás salário de prostituição nem preço de sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto” (Deut.23:18-a).
A pergunta que serve de título a este escrito é, com certa freqüência, formulada. Há os que sustentam que dinheiro é dinheiro e não é sujo ou limpo, apenas dinheiro; portanto... Há os que entendem que o dinheiro (em si), embora amoral, adquire moralidade dependendo de seu destino e ou origem.
Semana passada acompanhei uma matéria de reportagem do jornalista Roberto Cabrini sobre um pastor no Rio de Janeiro. Este pastor já foi alvo de outras reportagens, nas quais era visto enfrentando traficantes, resgatando condenados à morte pelo tráfico e derrubando (literalmente) criminosos assassinos com a sua palavra de autoridade. Na matéria do Cabrini o jornalista perguntou se o pastor ficava com os 10% dos traficantes quando eles vinham para a igreja. A resposta foi chocante. O pastor disse que aquele dinheiro havia sido fruto do TRABALHO do traficante e que ele havia SUADO muito para obter, correndo risco de ser preso, baleado e morto. Assim ele deveria entregar os 10% e o restante estaria limpo e poderia usar à vontade. É uma vergonha chamar de trabalho tais formas de obtenção de dinheiro, e comparar com o trabalho honesto e digno do que verte seu suor no esforço lícito e ético para obter seu sustento e de sua família.
Não posso entrar no mérito da atuação deste pastor. Mas, é inadmissível o que disse. Pode-se, por sua fala, entender que o dízimo seria uma forma de “purificar” o restante do dinheiro obtido ilicitamente. O dízimo se converte na melhor maneira de “lavagem de dinheiro”, mesmo porque se torna não só “limpo”, mas santo, purificando sacramente o restante da quantia, mesmo sendo fruto de seqüestro, assassinato, tráfico de armas, tráfico de drogas, exploração de jogo e prostituição, entre outros. É lamentável que se ouça isto da boca de um pastor.
Este é um exemplo de forma equivocada de se imaginar agradar a Deus. Não se pode perguntar a origem do valor que alguém entrega na tesouraria, mas se sabemos que tal valor é de origem ilícita e criminosa, não é correto e ético aceitar e receber como “oferta ao Senhor”. Na verdade o Senhor entende que “estas coisas são igualmente abomináveis ao Senhor” (Deut.23:18-b).
Rev. Paulo Audebert Delage
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