ANO LXI - Domingo, 21 de março de 2004 - No 3047
ESPERANÇA, APESAR DOS PESARES
Onze de março. Sete e trinta da manhã. A ação terrorista, cruel e covarde, faz estremecer a cidade de Madri e abala o mundo civilizado. Cerca de 200 mortos e 1400 feridos! Na Palestina dois homens-bomba se explodem levando consigo vítimas inocentes. No Iraque o morticínio continua em nome da paz. Nos Estados Unidos a guerra antiterror justifica o desperdício de bilhões de dólares. No Brasil, apesar da mudança de governo e das promessas políticas, a miséria ainda se abriga debaixo dos viadutos e pontes; o poder corruptor das drogas impera e a violência campeia; a população ordeira suspira sob a síndrome do assalto. E dentro desse contexto tão deprimente quão vergonhoso, não há - como não havia em Israel nos dias de Isaías - nenhum sinal visível da glória de Deus!
Matthew Henry escreveu: "Nossos temores precisam salvar nossa esperança da presunção, e nossa esperança precisa salvar nossos temores de mergulharem no desespero".
Um missionário teve que deixar na Alemanha seus dois filhos pequenos e partir com a esposa para o interior da Nova Guiné. Em seu esforço de transmitir a Palavra de Deus na língua daquele povo, não conseguia encontrar no idioma local uma palavra que traduzisse esperança. Passado algum tempo, nasceu-lhe outro filho. No entanto, com pouco mais de um ano de idade, a criança contraiu uma doença tropical e morreu. Quando o missionário estava fazendo um pequeno caixão para o seu filhinho, um dos indígenas observou suas lágrimas molhando as tábuas. Comovido, perguntou: - Agora vocês vão nos deixar, não é? - Não, respondeu o missionário, nós vamos permanecer com vocês. -Mas... se vocês morrerem também aqui, o que vai acontecer com seus outros filhos? - "Deus proverá", disse o pai invocando as palavras do patriarca bíblico. - É, vocês cristãos são diferentes mesmo, concluiu o nativo, vocês enxergam além do horizonte.
Enxergar além do horizonte... eis uma boa definição de esperança!
Em sua Epístola aos Romanos (4.18,20,21), Paulo escreve: "Abraão, esperando contra a esperança, creu... não duvidou da promessa de Deus, mas, pela fé, se fortaleceu... estando plenamente convicto de que Ele era poderoso para cumprir o que prometera". Apesar da triste e ameaçadora realidade em que estamos inseridos e independente das forças que operam neste país e no mundo, ainda mantemos a esperança porque nós, também, cremos em Deus. E "a esperança nunca vai mal, quando a fé vai bem", dizia John Bunyan, o célebre autor de "O Peregrino".
O que confunde os incrédulos e fascina os crentes é que em nossa caminhada de fé vemos o invisível, cremos no incrível e esperamos o impossível!
Rev. Eudes