ANO LXXIII - Domingo, 28 de fevereiro de 2016 - Nº 3670
MAL SEMPRE MAU? (Gn. 50:20)
MAL SEMPRE MAU? (Gn. 50:20)
A questão do mal, sua origem, existência, incidência, alcance e outros aspectos ligados a ele sempre foram alvo da indagação humana, desde tempos antiquíssimos dos quais se tem algum registro oral ou escrito. Não é diferente com os cristãos (e não cristãos) ainda nos dias de hoje. Esse assunto é, para quase todos, inquietante e incômodo devido às suas implicações e desdobramentos. Em princípio, a todos parece que o mal é sempre mau, no entanto, pode não ser assim. Vejamos quatro situações possíveis:
a) Coisas boas (bem) acontecem a pessoas boas. Essa nos parece a correta e como sempre deveria ser, havendo justiça e coerência.
b) Coisas boas (bem) acontecem a pessoas ruins. Embora não seja o ideal para nós, ainda admitimos (com certo incômodo) esta situação, mesmo entendendo não ser a mais justa.
c) Coisas ruins (mal) acontecem a pessoas boas. Tal situação é a que traz mais insatisfação, angústia e, muitas vezes, revolta. É injusta e inadmissível tal situação. É o que se pensa na maioria das vezes.
d) Coisas ruins (mal) acontecem a pessoas ruins. Neste caso a situação é adequada (na visão geral), pois há punição (retribuição) justa com o mal a quem agiu mal. Retribuição devida e justa pelo mal praticado.
Nas quatro posições anteriores pode-se ver que o problema do mal só causa embaraço, de fato, em apenas uma delas, a saber, a letra “c” e demanda tentativa de explicação, mas sem muito sucesso, na maioria das vezes. Porém, na letra “d”, o mal não é mau; é visto, na verdade, como bem. A pessoa que tem praticado o mal deve receber a justa punição (prisão, doença, morte, etc.), vendo-se tal penalização como boa. Mas, embora seja boa como recompensa punitiva pelo mal praticado, não deixa de ser algo ruim (gera dor, sofrimento, tristeza, etc.). Assim, o enforcamento dos responsáveis pela morte e sofrimento de milhões de judeus, ciganos, negros e deficientes no período nazista foi visto como algo justo (bom). Então o problema não é o mal em si mesmo, mas sua manifestação em determinadas circunstâncias. Pense: o inferno é mau ou bom? A questão volta à tona: o mal é sempre mau?
Rev. Paulo Audebert Delage