ANO LXXI - Domingo 17 de novembro de 2013 - Nº 3551
CONSCIÊNCIA
O termo que dá título a esse escrito pode ser entendido em acepções diferentes. Se pensarmos na psicologia (psicanálise) o entendimento é de algo ligado à percepção de si mesmo na condição de ser emocional e que distingue o Eu do Outro. Se tomado pelo aspecto clínico e somático seu sentido é de que está desperto, ou seja, não está com seus sentidos subtraídos ou suprimidos (desmaio, coma, etc.). Caso o tenhamos em termos sociológicos a significação ficará vinculada à noção de “pertença”, ou seja, de pertencimento ou integração a determinado segmento de grupo, raça, cor, religião, classe social, etc.
Estamos às vésperas de um feriado municipal ligado à consciência negra. Isso nos faz pensar bastante sobre o aspecto do “fechamento” de minhas características e sustentação de tal fato em relação (às vezes confronto) a outros segmentos. Entendo que, neste sentido, todos devemos ter nossa consciência. Assim é preciso que se tenha consciência de fé cristã (que se distingue e, em certo sentido, confronta com outras), muçulmana, hindu, budista, kardecista e outras. É legítimo que se imponha a consciência branca (ariana?), a consciência amarela (asiáticos; chineses, japoneses, filipinos, indonésios, e outros), a vermelha (índios) ou outra às demais? À medida que tais “consciências” legítimas em termos de percepção de origem e identificação de interesses deixam esses parâmetros e se tornam elementos promocionais de distinções, diferenças ou merecimento de privilégios, tornam-se, no mínimo, perigosas.
Sei que posso ser mal entendido no que digo, mas insisto que não sou contra o fato de que haja o Dia da Consciência Negra, posiciono-me questionando a distinção com feriado. Estabelecer determinado dia em nosso calendário para a consciência negra é salutar e compreensível, mas decretar feriado tal dia, isso é inadequado. Abre o direito ao feriado do dia da consciência branca, amarela, cristã, muçulmana, hindu e as outras tantas consciências legítimas e merecedoras de todo respeito e consideração. Os negros merecem todo respeito, como os brancos, vermelhos ou amarelos, mas sem distinções ou privilégios.
Nós cristãos (negros, brancos, amarelos ou “mestiços”) precisamos aguçar nossa consciência em termos de nossas convicções e posições, pois o Senhor Jesus espera isso de seus servos e servas, os quais foram salvos por sua graça, levantando bem alto o pendão real do evangelho redentor de Cristo. No entanto, votaria contra a proposta de lei para a criação do feriado do Dia da Consciência Evangélica (ou Protestante) por entender que isso seria discriminação em relação a outros credos. Consciência sim, privilégios não.
Rev. Paulo Audebert Delage