ANO LXXIV - Domingo, 25 de setembro de 2016 - Nº 3700
Mudanças
Mudanças
Os textos acima transcritos, presentes no mesmo salmo, são chocantes para nós e nos trazem uma sensação de insatisfação, pois revelam um aspecto com o qual não gostamos de nos deparar, ou seja, a mudança que implica em desassossego, incômodo, dificuldade e sofrimento. Claro que nos alegramos e nos regozijamos com o fato de Deus transformar nossos desertos em rios e a terra seca e árida em mananciais de águas cristalinas e abundantes - figura linda. Mas, ao nos depararmos com a situação ao inverso torna-se difícil assimilar tal circunstância, ou seja, o rio feito deserto e o manancial tornado terra seca. Há, inclusive, os que firmemente negam o fato de que o Senhor faça isso, insistindo que tal atitude não se conforma com o caráter gracioso de Deus e que mudanças desta ordem não têm nada com o agir do Senhor.
A vida não é só deserto (graças a Deus), nem tampouco apenas manancial. Ambos se mesclam e os temos alternadamente em nosso viver. Louvado seja Deus porque a maioria de nós tem muito mais tempo de manancial que de deserto, mas o problema é que o deserto nos afeta muito mais, posto que
a restrição, a privação e a tribulação nos angustiam, fazendo os desertos se tornarem tempo e espaço quase infinitos, inacabáveis em nosso modo de ver.
A tortura do deserto (mesmo que por tempo menor que o dos mananciais) é sufocante e nos leva a esquecer do privilégio que vivenciamos desfrutando dos rios, nascentes e fontes em nosso viver. Oramos no deserto para Deus convertê-lo em manancial e Ele, por graça e bondade, o faz. Mas, devemos estar atentos para o fato de que Ele poderá, por vontade DEle, mudar nossos suaves e tranquilos regatos em terra seca. Por quê? Pergunta inquietante. Nem sempre haverá resposta em nós e conosco para ela. Precisamos apenas ter consciência de que mudanças, de uma forma ou de outra, estão sob a condução de nosso Senhor. Difícil, mas verdade.
Rev. Paulo Audebert Delage