ANO LXX - Domingo, 14 de outubro de 2012 - Nº 3494
ALGUMA FELICIDADE
“...pois nada há encoberto que não venha a ser revelado” (Mt.10:26)
“Nunca houve ‘mensalão’. Isso é uma mentira”. Ouvimos tal afirmação, por várias vezes, vinda de fonte supostamente inquestionável nesse país, uma espécie de “guru” da ética e da honradez. Pois bem, o “mensalão” existiu, ficou provado. Vemos que havendo a criatura, como não existir criador ou criadores? Desse modo, o STF disse que não se tratava de fantasma, mas que era real a tal figura do “mensalão”, e afirmou, com todas as letras, quem são os seus orquestradores, devidamente identificados e condenados por nossa maior côrte de justiça. Claro que tais “maestros” não foram os criadores da “sinfonia”, havia alguém acima deles, o chefe, o autor. Se José Dirceu era o “chefe da quadrilha” (conforme dito pela Procuradoria) quem era o “capo de tuti capi”, ou seja, o chefe de todos os chefes? Quem tem um mínimo de discernimento sabe a resposta e pode dizer quem era o autor da partitura.
Nos dias do julgamento de Nuremberg a maioria dos acusados dizia: “eu não sabia de nada” ou “fiz porque obedecia a ordens superiores”. Os “cabeças” diziam que não sabiam o que os subordinados faziam e esses diziam que faziam por mando daqueles. No final, Hitler não sabia o que Heinrich Himmler havia feito ou ordenado, e esse fizera por ordem do Líder. Assim, ninguém é responsável. A história (em dose e alcance bem menores) se repete. É o mesmo em todo lugar.
Quando falo de alguma felicidade, isso não se deve ao fato da condenação de alguém, mas, sim, do vislumbrar de que há uma possibilidade de mudança, de melhoria, de esperança nesse país. É a lei da ficha limpa; a sentença condenatória de peixes grandes (tubarões); a declaração inequívoca de que a corrupção existe nesse país, mas pode ser combatida e seus agentes sentenciados (espero que ocorra a prisão). A felicidade é por causa disso.
A felicidade é pelo fato de que a esperança é reacesa. Foi acesa nos dias de Collor e apagou-se. Agora é reacesa pelo STF. Espero que não volte a se desvanecer e fenecer, mas que reluza cada vez mais, trazendo às claras as obscuras manifestações de corrupção neste país, a fim de vermos curada essa praga endêmica e histórica em nossa Pátria. Que nada do que está oculto deixe de ser revelado, para que haja cada vez mais alguma felicidade.
Rev. Paulo Audebert Delage
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