ANO LXX - Domingo, 16 de setembro de 2012 - Nº 3490
PRECONCEITO
“Não discrimineis, para que não sejais discriminados.” Mateus 7:1
Encontra-se para julgamento no STF uma ação que envolve carga contra Monteiro Lobato, pelo fato de haver incidência de preconceito em seus livros didáticos infantis. Não conheço a ação em seu teor, a não ser pelo que li e ouvi em breves discussões em nossos noticiários, mas fiquei pasmo com isso.
Se essa forma de abordagem “pegar”, teremos sérios problemas com as histórias de Walt Disney onde as bruxas são velhas e feias, onde não há presença de negros como heróis, não há casamento entre os personagens que vivem um eterno não ser família, inexistindo relação pai-filho, apenas tio-sobrinho. Levar nossa mais alta corte julgar algo desta monta, parece dar a ideia de que tais distintos ministros não têm o que de maior peso a considerar.
Claro que as estórias de Monteiro Lobato e de outros contistas ou fabulistas têm a presença velada ou descoberta do preconceito (ou conceito), estabelecido pelo princípio condutor de alguma ideologia à qual eram simpáticos, seja nacionalista, comunista, socialista, escravagista, monarquista, republicana, democrática, etc. Se quisermos ser criteriosos encontraremos tais indícios até na Bíblia. Veja, por exemplo, as citações feitas sobre os gigantes; são indicativas que eram todos eles maus. Tal orientação pode nos levar a pensar que qualquer indivíduo fora do padrão “normal”, deva ser encarado como suspeito ou mal, pelo fato de ser diferente (gigante).
Jesus nos adverte contra o preconceito e a discriminação ao nos proibir o juízo discriminatório (não de exercer juízo avaliativo). O motivo fica claro, pois com a “vara” que eu medir (discriminar), serei discriminado. Se meu critério de discriminação é a cor, por esse mesmo critério serei discriminado por aquele que discrimino; se for o status social, serei assim tratado, etc.
Preocupar-se com a presença de implicações preconceituosas em Monteiro Lobato, deve ser pertinente a dissertações de mestrado ou teses de doutorado na área da literatura, antropologia ou sociologia, mas levar isso como ação ao STF é algo, a meu ver, sem sentido. O que devemos ter é, ainda hoje, sentimento de respeito e acatamento ao que pensa desigualmente, mesmo garantindo a ele o direito de pensar desigualmente e recebê-lo sem discriminação, ainda que não concorde com ele. Esta é a mensagem cristã.
Rev. Paulo Audebert Delage
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