ANO LXVI - Domingo, 05 de abril de 2009 - Nº 3310
SIMPLICIDADE X OSTENTAÇÃO
Quando lemos a Bíblia vemos um contraste claro e flagrante entre o ritual cúltico do Antigo e do Novo Testamentos. Aquele com seus cerimoniais complexos, vários sacrifícios, formas minuciosas de ofertas, paramentos, abluções e outros elementos de pompa e ostentação para enaltecer, com o visual, Àquele que se reverenciava. Este, por sua vez, se despoja de paramentos, incensos, sacrifícios, rituais complexos e institui a simplicidade e a singeleza (quase pobreza visual ritualística) : derramar água (ou imergir) o batizando e o "partir do pão" (beber do cálice e comer do pão). Apenas isto. Mas, era pobreza em demasia, era despojamento em excesso, era simplicidade em exagero. A competição se tornaria desigual se comparado o cristianismo com as outras religiões de rituais pomposos e templos suntuosos. O cristianismo perde sua singeleza e simplicidade, passando a trocar o interior pelo exterior, o coração pelos olhos, o íntimo pelo externo.
Até o terceiro século o cristianismo era religião sem templo físico (o templo era a Igreja – indivíduos e comunidade), mas com força e pujança transformadoras. A Igreja passará, posteriormente, a ser o templo. Mas, e as outras religiões? A comparação se impõe. A simplicidade é sacrificada no altar da suntuosidade, em nome da promoção do valor de nossa fé e da grandeza do Deus que servimos. É preciso ter templos e que não sejam inferiores aos dos "deuses pagãos", então passa-se a construir grandes e suntuosos templos (catedrais) que "falem" da glória de nosso Deus. Volta-se ao "modus vivendi" da Velha Aliança, do Velho Pacto, do Antigo Testamento. Templo, sacerdote, altar, sacrifício, vítima. Mas, tudo com muita pompa e circunstância. Da simplicidade à magnitude e ao esplendor, era o desafio dos cristãos. Da ostentação e pompa à simplicidade foi o desafio de Jesus, o Cristo, aos seus discípulos e, mais do que nunca, continua sendo.
Quando são lidas as páginas do Novo Testamento, sobretudo após os evangelhos, vê-se que o cristianismo é uma religião rica de mistérios teológicos, rica em solidariedade, rica em identificação com o simples; mas pobre em ritos e cerimônias pomposos. Não há registro de "calendário litúrgico", de "ciclo de celebrações". Há apenas a celebração da alegria com singeleza de coração e simplicidade de elementos (Atos, 2:46), pois celebra-se a festa "não com o Velho Fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia; e , sim, com os asmos da sinceridade e da verdade" (I Coríntios, 5:8).
Pensemos, reflitamos e discutamos este tema ou esta questão e indaguemos de nós mesmos : qual o desafio do cristianismo; ostentação ou simplicidade?
Rev. Paulo Audebert Delage
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