ANO LXXI - Domingo 06 de abril de 2014 - Nº 3571
50 ANOS
Faz 50 anos da ocorrência do golpe (assim chamado por uns) ou revolução (assim chamada por outros). Vê-se que as paixões se colocam claramente, com os que entendem ter sido benéfica a intervenção e tomada do poder pelos militares, e os que afirmam ter sido nociva em todos os sentidos e sem nenhum benefício tal atitude de golpe de Estado.
Diz-se que a “paixão cega”. Os apaixonados estão dos dois lados e ficam cegos em perceber os desdobramentos negativos e os aspectos positivos, pois tanto uns como outros aconteceram como decorrência de tal evento de 31 de março de 1964.
Eu era uma criança (7 anos) e morava em Juiz de Fora (de onde se levantou o movimento), cidade que, à época, tinha 12 quartéis, o que era muito significativo. Houve muita movimentação, embora minhas lembranças não sejam tantas. Nunca fui atingido ou prejudicado pelo movimento militar. Cresci, trabalhei, estudei, como muitos brasileiros. Posso, com certa isenção, admitir efeitos negativos, mas, também, reconhecer pontos positivos como fruto do golpe e do período militar.
Vejo que muitos dos que à época “gritavam contra os burgueses e capitalistas”, tornaram-se exatamente isto, ou seja, burgueses e capitalistas. Estão no mando e no poder e agem de forma a prestigiar seus pares, protegendo, blindando e acobertando suas manifestações de corrupção e atos de improbidade e de enriquecimento ilícito ou, no mínimo, suspeito. Apenas para provocar: veja quantos militares (generais), presidentes ou não, ficaram ricos? Quem matou e torturou os seus adversários, sejam militares ou militantes, devem ser igualmente condenados, mas a paixão deixa ver a legitimidade de matar ou torturar apenas para os militantes (era guerra), execrando e condenando quando se aplica a militares (não era guerra).
Como cristãos reformados é mister estarmos atentos e mantermos a posição de atitude crítica ao Estado, sendo-lhe, uma espécie de consciência, sem nos vendermos ou rendermos, não admitindo a injustiça, a corrupção e a multiplicação da iniquidade. Nestes 50 anos do “golpe-revolução” devemos aprender a viver de modo a promover, como cristãos, a paz, a liberdade e a justiça, expressões legítimas do reino de Deus.
Rev. Paulo Audebert Delage
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