ANO LXVIII - Domingo, 24 de outubro de 2010 - Nº 3391
"Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!" (I Coríntios, 6:19)
É razoável que pessoas indaguem sobre o fato de Paulo pregar o evangelho por obrigação (compulsoriamente), pensando que ele não o fazia por boa vontade ou alegria. Trata-se, na verdade, de percepoção de dever-privilégio e não mera tarefa obrigatória. Ao compreender o fato de que sua salvação não poderia ficar retida nele, mas necessitava ser partilhada à medida que via outros tantos sem esperança e sem redenção, dava lugar à compulsão-obrigação de falar-lhes do evangelho de Cristo.
Nesse sentido é que ouvimos Paulo expressar sua íntima aflição: "ai de mim se não pregar o evangelho". Não é "ai de vocês", mas "ai de mim". Essa é também sua experiência? Esse é também seu pensamento? Se você não prega (vive-testemunha) o evangelho há essa sensação de angústia e aflição em seu coração? Não? Que lamentável.
Mas, qual o sentido desse "ai"? Teria Paulo medo de alguma forma de condenação iracunda manifesta pelo Senhor contra ele?
Primeiramente é possível que houvesse, não esse tipo de medo, mas, temor devido por chegar diante de seu Senhor sem o cumprimento de sua tarefa e "obrigação". O constrangimento, o embaraço e a vergonha o levariam a corar de vergonha e, sem dúvida, o sentimento seria de "ai de mim". Ouvir a expressão "servo negligente" é sempre embaraçoso e constrangedor e nos leva à situação de dizermos: "ai de mim, miserável que sou".
Pode-se também entender que Paulo não pense em ações de Deus em cobrá-lo, mas que seja algo ligado ao seu próprio senso de compromisso. Desse modo, trata-se de algo de sua própria consciência e percepção de dever. Não é ação de fora, mas de dentro. Ver-se como alguém negligente e faltoso em realizar o que dele se espera, é motivo para dizer "ai de mim".
Outra possibilidade é a de que Paulo se colocava como alguém que , deixando de pregar, seria "co-responsável" pela não redenção daquele indivíduo, por não lhe haver dado a chance da conversão pela pregação do evangelho. "Ai de mim"; pois se não pregar, pessoas não ouvirão; em não ouvindo, não invocarão; em não invocando, não experimentarão a redenção.
Que a mesma consciência de Paulo esteja manifesta hoje, que seja percebido o privilégio-obrigação de pregar (viver-testemunhar) o evangelho, pois se assim não for, não resta outra coisa a dizer : "Ai de mim POR não pregar o evangelho".
Rev. Paulo Audebert Delage
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