ANO LXVII - Domingo, 24 de janeiro de 2010 - Nº 3352
DRAMAS E TRAGÉDIAS
DRAMAS E TRAGÉDIAS
A vida, seja em caráter pessoal ou coletivo, apresenta muitos dramas e tragédias, os quais integram, contra nosso gosto e vontade, nossa experiência, inexoravelmente.
No final do ano de 2004 o tsunami ceifando dezenas de milhares de vidas. Agora, terremoto no Haiti destruindo e matando, em poucos segundos, outras dezenas (talvez centenas) de milhares de pessoas.
Somos levados a perguntar ou buscar de quem seja a responsabilidade ou a culpa. Mas, nesse caso não há alguém que possamos onerar com tal peso. Isso nos deixa ainda mais perplexos e se nos impõe, mais fortemente, a questão: por quê? Nem sempre haverá resposta a essa indagação, o que nos faz cair em maior perplexidade.
Ao vermos a ação mundial em auxiliar as pessoas atingidas e assistir ao socorro aos flagelados, nos admiramos pela solidariedade demonstrada. Pessoas dispondo-se a ir e ajudar. Envio de auxílio humanitário e financeiro para restauração e reconstrução, etc. É gratificante.
Mas, ao vermos a situação anterior daquela gente (viver com dois reais por dia) em meio à miséria, ficamos pensando por que essa ajuda internacional não foi enviada para promover saneamento básico, melhorar atendimento escolar, ampliar a assistência médica e outras? Serão necessárias tragédias desse porte para tal mobilização? Teremos que ser sempre atingidos em nossos rostos com a catástrofe, para nos movermos em compaixão? A culpa é deles; a corrupção é grande e impede ajuda, são preguiçosos e indolentes, etc. Justificativas (adequadas ou não) apresentadas para isenção de responsabilidade e envolvimento.
É pesaroso vermos que ali se vai formando um palco de disputas políticas. A disputa enfurecida de pessoas por comida e sobrevivência, é contrastada com a luta silenciosa, mas não menos trágica, de poder quanto a quem assumirá o "comando" das operações. Os que lá não estavam, agora chegam e querem ter o controle das ações. Por quê? Não podem ser subordinados aos que lá estavam e conhecem a situação do país? Nesse sentido, nem mesmo a tragédia impede a manifestação da soberba humana.
E nós? Como cristãos nos cumpre envolvimento efetivo não só com oração, mas, também, com ajuda prática (doação). Não devemos estar "blindados" ("blind" no inglês=cego) em relação à miséria e desdita de brasileiros e não brasileiros, e sermos "desblindados" apenas por tragédias, que nos constrangem e comovem. Sempre haverá "Tahitis" perto ou longe de nós, nos quais poderemos manifestar nossa vida cristã e compromisso de fé, mesmo antes do drama e da tragédia, ou até sem eles. Deus nos abençoe.
Rev. Paulo Audebert Delage
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