ANO LXIII - Domingo, 26 de fevereiro de 2006 - No 3148
Crer para Viver
É muito comum, em nossos dias, ouvirmos no meio evangélico um discurso que tende a desprestigiar a doutrina cristã. "Cristianismo é vida, e não doutrina", afirma-se. "O que importa é praticar o amor cristão; as questões doutrinárias não são importantes". A reflexão doutrinária, à luz de tal argumentação, torna-se uma atividade secundária, muitas vezes tida como maçante, para não dizer desnecessária.
Esse discurso pode soar atraente e piedoso, mas a simples leitura das cartas de Paulo registradas no Novo Testamento demonstrará que a Palavra de Deus não nos autoriza dissociar o viver cristão do fundamento doutrinário da fé. Muito pelo contrário, em cartas como Romanos e Efésios, doutrina e vida caminham lado a lado, sendo a prática de boas obras justificada e fundamentada na doutrina da salvação pela graça.
Tomemos como exemplo a epístola aos Efésios. A partir do cap. 4, Paulo passa a exortar seus leitores quanto ao modo segundo o qual deviam viver. São apresentadas instruções concernentes à unidade da Igreja, à pureza e justiça nos relacionamentos, ao casamento, ao trabalho, e muitas outras instruções de ordem prática. Mas como é iniciado esse capítulo? "Rogo-vos, pois, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados". A conjunção pois introdutória dos capítulos práticos da carta relaciona-os aos capítulos anteriores. E o que Paulo apresenta neles? A mais pura doutrina cristã! Os capítulos de 1 a 3 são uma apresentação doutrinária da obra realizada por Cristo Jesus para salvar sua noiva, a Igreja, por meio da graça de Deus, a fim de que judeus e cristãos fossem unidos no mesmo Corpo Glorioso, trazidos da morte para a vida.
Efésios 4.1 nos ensina que a conduta cristã é totalmente dependente do chamado cristão. Sem entendermos nosso chamado, a obra gloriosa de Cristo, não encontraremos uma base verdadeira para a prática de boas obras. Se desconsiderarmos a doutrina, corremos o risco de atribuirmos valor meritório às nossas boas obras, entendendo que elas colaborariam para nossa salvação. Isso esvazia o cristianismo de seu significado e peculiaridade, tornando-o uma religião em meio a tantas outras. A salvação pela graça, por sua vez, motiva-nos a vivermos uma vida de piedade e pureza tão somente pelo amor, buscando a glória de Deus e o bem-estar do próximo.
Cristianismo certamente é vida, sim, mas uma vida abundante que redunda da mais bela doutrina. Conheçamos a nossa fé para que, motivados por ela, pratiquemos as boas obras que Deus preparou para andarmos nelas.
Rev. Davi
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