ANO LXXIV - Domingo, 25 de dezembro de 2016 - Nº 3713
GRUTA. NÃO PALÁCIO.
GRUTA. NÃO PALÁCIO.
Natal chegou mais uma vez. Repetem-se os hinos, os festejos, os presentes, as celebrações religiosas, a efervescência no comércio, a comilança e a gastança. Novamente vamos à leitura dos textos nos evangelhos escritos por Mateus e Lucas em busca de sermões, devocionais, mensagens e estudos. Desejo trazer à memória a figura da gruta, o lugar de nascimento de nosso Senhor e Salvador. Hoje no meio “Gospel” há alguns aspectos que eu destaco, considerando-se a gruta:
a) Humilhante: A figura de nascer em uma gruta (não era estábulo, haras ou celeiro) lugar de abrigo dos animais e em um cocho é figura que evoca humilhação. Indicação de escassez de recursos, sem luxo, sem ostentação. Tal figura foi durante muito tempo vista como humilhante para os cristãos e voltou a ser assim em nosso meio. É mensagem negativa e de miséria.
b) Decepcionante: Tal ideia de humilhação (gerada pela humildade) ocasionou a muitos um sentimento de decepção. Afinal esperava-se um rei (veja os sábios que vão ao palácio) e tem-se tal situação. Esse tipo de situação foge ao imaginário produzido por mim (e pelos outros) em relação ao “Messias”. É expressão de derrota e “baixa estima”.
c) Revoltante: Como resultado final vem a revolta. Não aceito tal fato, isto é absurdo e inadmissível. Este tal não é meu Rei. Nada tenho a ver com Ele. A mensagem desta gruta é de pobreza, escassez, despojamento, carência. Rejeito isto tudo, pois minha Visão é outra, e esta miséria retratada pela gruta me causa revolta.
No entanto, na real dimensão da Fé Evangélica destaco aspectos relevantes sobre a gruta e não o palácio:
a) Deslumbrante: Fico atônito com tal fato. O deslumbramento não é com o luxo e riqueza, mas com a absoluta falta deles. O Rei dos Reis e Senhor da glória nasce em uma gruta obscura. Como pode ser isto? Paulo diz que “Jesus a si mesmo se humilhou” (Fp. 2). Tal ato nos deixa extasiados, perplexos, deslumbrados com Ele. Gruta e não palácio.
b) Desafiante: Este fato é para nós um desafio imenso, pois o desejo de ostentação, glória, riqueza e poder estão arraigados em nossa natureza humana. A mensagem da gruta é oposta à atual mensagem de ufania e triunfalismo capitalista travestida de mensagem evangélica; à proposta de sucesso e vanglória terrenais maquilada de palavra positiva de fé cristã. Simplicidade é o desafio. Gruta e não palácio.
c) Estimulante: Como não ser impactado, desafiado e estimulado por tal exemplo? As pessoas (mundo) não querem tanto ouvir sobre o Natal, querem ver em nós a verdade do Natal com sua mística, piedade, humildade e simplicidade. Gruta e não palácio.
Cada vez se torna mais difícil entendermos que o Natal é muito mais gruta que palácio. Misericórdia Senhor. Feliz Natal.
Rev. Paulo Audebert Delage